REPÚDIO À CAÇA DA BALEIA
Por Suzana Ramineli (naturaulas@gmail.com)
É indecoroso que, no Ano Internacional da Biodiversidade, quando se pesquisa a situação calamitosa dos oceanos (e do meio ambiente como um todo), em que listas intermináveis de espécies ameaçadas de extinção são elaboradas e se discute a viabilidade da vida na Terra, algo como o fim da moratória à caça de baleias seja pauta da 62ª Reunião Anual da Comissão Internacional da Baleia (CIB).
O questionamento começa pelo título: essa é uma comissão da Baleia ou contra a Baleia? O que dizer quando o próprio presidente da CIB, Sr. Cristián Maquieira, que deveria ser o porta-voz desses animais, coloca panos quentes na situação ao declarar que "vários milhares de baleias a menos seriam mortos no período do acordo", argumento pró-japoneses caçadores que passariam a ter uma “cota oficial” de captura e estariam “abertos à fiscalização”. Ora, francamente!
Quer dizer que agora, oficialmente, é o criminoso que decide se deve ou não ser fiscalizado? Ele também “faz beicinho” e declara que deixará a CIB caso não haja um afrouxamento nas restrições impostas à caça comercial da baleia, atitude do ministro da pesca do Japão, Mashiko Yamada. Qualquer semelhança com uma criança mimada, que vai embora do jogo se for contrariada, não é mera coincidência. Seria chacota, se essa troça não custasse a vida de milhares de animais inocentes que, mesmo com a moratória internacional, foram caçados em um número superior a 35 mil indivíduos desde 1986. Isso sem contar as que não são declaradas.
Há muito tempo, o Japão – que me perdoem aqueles japoneses ambientalistas que não têm culpa de terem nascido nesse país “baleívoro” e “baleófago” – molesta e assassina cruelmente baleias e outros animais marinhos com a tosca desculpa de que pratica “caça científica”. Só isso deveria ser motivo de prisão. Cientistas sérios do mundo, uni-vos! Estão tripudiando da profissão de vocês. Ou alguma pesquisa científica séria come o seu experimento? Afinal, é sabido e comprovado que a carne de baleia está à venda nos mercados japoneses. Além disso, ciência nenhuma desse ou de qualquer outro mundo justifica que 1800 animais sejam mortos por ano para pesquisa. Muito menos em se tratando de animais ameaçados de extinção e cuja gestação dura mais de um ano. Não é preciso ser um gênio da matemática para perceber que essa conta fecha mal.
Ademais, suborno deixou de ser crime? Ou alguém acha que tem um nome mais bonito para o fato de um país dar dinheiro a outro em troca do voto em seus interesses? Pois é exatamente isso que o Japão faz com países menos favorecidos, como Guiné, Tanzânia e Palau. Paga para que eles sejam a favor da matança de baleias. Persuasivos, não? E Noruega, Islândia e Dinamarca, entre outros, vão pelo mesmo fétido caminho.
Tiremos os olhos por alguns instantes do espetáculo de gols da Copa do Mundo para marcar um golaço em favor de nossos cetáceos. Infelizmente, há muito pouco que possamos fazer. Entretanto, a justiça e a honra, ainda que muitas vezes relegadas a segundo plano, não podem ser esquecidas. Que não se perca o poder de manifestar o desgosto que sentimos perante atrocidades como esta em que foram postas as baleias. Se eles assassinam descaradamente os maiores animais da Terra, o que não estarão fazendo com pequenas criaturas? Indignem-se!
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